segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A experiência dos parreirais de uva no Centro-Oeste brasileiro

No pequeno município de Santa Rita do Araguaia, estado de Goiás, existe um cenário não tão comum para o centro-oeste brasileiro, um grande parreiral de uvas. Esse tipo de plantação é inusitado em regiões de clima tropical semi-úmido. O cultivo da videira é mais comum em locais de clima temperado como do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Bahia e Pernambuco.

A ideia inusitada de fazer esse tipo de plantio foi do gaúcho Valdir Sperafico, que começou com os testes para essa produção no fundo do quintal, em 1995. Inicialmente, foram plantadas 17 covas. 


Valdir resolveu experimentar depois de assistir a várias palestras de incentivo ao plantio de uvas no cerrado. Em 1999, decidiu começar a produção. Procurando algumas terras em Santa Rita e no município vizinho de Alto Araguaia – MT, encontrou uma propriedade bem localizada, na BR-364, a aproximadamente 5 km do centro do município goiano. Além de boa localização, abundância de água, a proximidade com a zona urbana e disponibilidade de energia elétrica estimularam a opção pelo local, o Sítio Sperafico.

No sítio são plantados mais de dois hectares de uvas, que são conhecidas e registradas por Uvas Araguaia. A produção é distribuída nos mercados goianos de Santa Rita do Araguaia e de Mineiros. No estado mato-grossense a distribuição é feita em Alto Araguaia, Alto Taquari e Alto Garças. Valdir afirma que a distribuição nas cidades vizinhas é fundamental para os negócios. Além de ampliar a renda, contribui para a divulgação da marca.

Mesmo comercializando em várias cidades da região, cerca de 60% de sua produção é vendida nas margens da rodovia, onde há um ponto de vendas.

As principais espécies cultivadas na propriedade do senhor Valdir são a Niagra Rosada e Patrícia, uvas que são mais populares nas regiões tropicais do Brasil. O cultivo da uva Niagra no cerrado só foi possível após 1990, graças a várias pesquisas, muitas delas produzidas pela EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

A Niagra é de um grupo de uva americana, uma espécie mais rústica. Ela é mais caldeada e tem uma adaptação melhor ao clima tropical. A Patrícia é uma espécie de mesa fina mais consistente, parecida com a uva Itália. “A Niagra é uma uva que você chupa, por ela ser mais caldeada, já a Patrícia você masca, pela consistência que ela tem”, explica o produtor.

As vantagens dessas variedades é que elas podem ser produzidas em propriedades pequenas, tendo um fácil manejo, menor custo de produção e uma melhor aceitação no mercado.

Manejo

O manejo da Niagra Rosada e da Patrícia são muito semelhantes. A Niagra é distribuída na horizontal (latada), tendo duas safras por ano, com produção de fevereiro a dezembro.

A Patrícia é espalhada na vertical (espaldeira), sua poda é feita no período da seca, por ser uma uva mais sensível ao clima e a possibilidade é de uma safra por ano.

A irrigação do parreiral é feita pelo sistema de microaspiração subcopa de baixa pressão, que evita o contato da água com as folhas, impedindo o apodrecimento destas. Os defensivos contra pragas e insetos utilizados no parreiral são todos orgânicos. Isso é uma prova que produção agrícola e preservação do meio ambiente podem caminhar lado a lado.

A produção de uvas para mesa é uma ótima alternativa para aqueles produtores que procuram diversificar a sua produção, as mais compensatórias são: Isabel, Niagra Rosada e Patrícia.

Produção diversificada

Além da produção de uvas, Valdir é um dos pioneiros da apicultura na região e, atualmente, vem apostando na plantação de coqueiros da Bahia para comercialização de água de coco e na produção de vinho artesanal.

A nova aposta em produção de uvas é a espécie Thompson, classe de uva branca e sem semente, muito semelhante à Uva Itália. No Vale do São Francisco, região que margeia o Rio São Francisco nos estados de Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, elas são produzidas para exportação. O Vale do São Francisco é referência na produção de hortifruti em todo país.

O sítio Sperafico é modelo na produção de uvas no cerrado, tendo sua qualidade reconhecida pela EMBRAPA. A propriedade é um bom exemplo de como pequenas áreas rurais podem ter uma grande produtividade, mostrando que a diversidade de produção pode ser uma boa opção no centro-oeste.

História da Uva

As primeiras produções de uva não têm data nem local certo, o que se pode afirmar é que elas são produzidas desde antes de Cristo nas regiões da China, Irã e Geórgia. A uva era bem conhecida entre os romanos, responsáveis pelos grandes vinhedos espalhados na Europa.

No Brasil o cultivo de uvas teve inicio em 1535 na Capitania de São Vicente, cultura essa trazida pelos portugueses. Mas foi após a imigração Italiana, no final do século XIX, que fez com que a produção ganhasse grande impulso no país.

As melhores épocas de produção variam de acordo com o clima de cada região, sendo que o Paraná é o maior fornecedor do país no período de julho a novembro, época em que há poucos fornecedores.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Esgoto a céu aberto incomoda moradores do Bairro Dom Bosco


Os moradores do bairro Dom Bosco, em Alto Araguaia, convivem com um problema que oferece risco para a saúde e o meio ambiente. O esgoto a céu aberto, popularmente chamado de Mané Falado, é conhecido pela população de toda a cidade.

O pequeno córrego incomoda os moradores pelo mau cheiro do esgoto jogado no local sem tratamento. Além de sofrerem com o odor e os insetos, a população vizinha ao córrego ainda convive com o perigo de acidentes.

Foto: Chaiani Rosso

Ordália Maria de Freitas, moradora do local há 20 anos, reclama da situação. “É muito ruim, porque fede muito, principalmente no verão”. A moradora teme ainda a segurança dos netos. “Com isso tudo aberto a gente fica com medo de um menino cair aí dentro”, destaca.

Segundo a Ordália, a situação já melhorou um pouco, porque antes o esgoto não era canalizado e quando chovia a água chegava a invadir as casas. No local existe o muro de arrimo feito de pedra que evita que o local desmorone e afete ainda mais a comunidade.

Cecília Augusta de Oliveira, também vizinha ao córrego, aponta os riscos da poluição do córrego para o Rio Araguaia, que recebe a água polúida do Mané Falado. “O pior é o Rio Araguaia, esse sim tá prejudicado”, alerta. Cecília se recorda com nostalgia dos tempos que ainda podia tomar banho no córrego.

Não é difícil encontrar durante a noite ratos nas proximidades do esgoto. Lúcia Borges, que mora em frente ao córrego, reclama justamente desta situação. “É rato, é gambá, a gente fica com medo, porque esses bichos acabam entrando em casa”.

O Mané Falado era apenas um pequeno córrego, onde alguns moradores da cidade pescavam, lavavam roupas e na época de chuva, tomavam banho. Devido ao crescimento do bairro Dom Bosco e de toda cidade, além da falta de planejamento urbano, o córrego transformou-se no esgoto que é hoje.

Como a região tem o solo muito úmido, os moradores não conseguem fazer fossas. Segundo o agente de Vigilância Sanitária, Gonçalo de Jesus de Souza, foi a partir dos anos 80 que os moradores do bairro começaram a jogar seus esgotos no córrego. Como os moradores do local foram aterrando suas casas, o Mané Falado foi secando aos poucos.

O córrego recebe o apelido de Manoel Oliveira, que faleceu depois de cair no córrego. O corpo do morador, conhecido como Mané Falado, foi carregado pela água por vários quarteirões até o Rio Araguaia e acabou encontrado três dias após o incidente na região do Praia, onde acontece o Festival Náutico.

Investimentos e soluções

Pelas várias reclamações dos moradores e por uma questão de saneamento básico, prefeitos buscam há décadas encontrar uma solução para esse problema. No final de 2011, foram liberados pelo Governo Federal recursos no valor de R$ 3 milhões e 238 mil reais, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Os recursos serão usados para implantar sistema de esgoto e canalização do córrego Mané Falado. Segundo prefeito Alcides Batista Filho, com o recurso também será feito sistema de tratamento para que o esgoto não caia diretamente no Rio Araguaia. A informação da liberação dos recursos destinados a obra foi publicada em dezembro de 2011 pelo Diário Oficial da União.

Conforme o prefeito, como o Araguaia é um rio federal, foi necessária uma licença de instalação da ANA (Agência Nacional das Águas). Apenas com a licença em mãos, o prefeito assinou convenio que garante liberação de 40% do valor do recurso do PAC para abrir o processo de licitação e iniciar as obras.

“O recurso veio pra gente canalizar e tratar toda a bacia do Mané Falado, inclusive com uma estação de tratamento compacta”, afirma. De acordo com a assessoria de imprensa da prefeitura, assim que o dinheiro estiver na conta da prefeitura, o governo municipal vai aguardar que a época das chuvas acabe para iniciar a obra.

Saneamento básico

O problema do esgotamento sanitário é encontrado na maior parte do país. Segundo dados do Censo, em 2000 apenas 63,8% dos domicílios do país estavam ligados à rede de esgoto. Em 2010 subiu para 67,1%, um crescimento baixo para apenas uma década.

Atualmente, no país, mais de três mil municípios têm rede coletora de esgoto. No centro-oeste, dos 246 municípios da região, apenas 132 cidades possuem rede coletora. A cidade de Alto Araguaia está entre os municípios que não coletam o esgoto.